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O que vem por aí

Reação na Paulista aos votos de Bolsonaro, Jandira Feghali e Jean Wyllys expõe claramente o que esperar dos golpistas

A estratégia do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, de separar por estados os votos pela admissibilidade do processo de impeachment da Presidenta Dilma Roussef, começando pelo Sul onde teria mais votos a favor, e depois por ordem alfabética, colocou na sequência as falas de três parlamentares do Rio de Janeiro, todos de posições firmes e ideológicas: Jair Bolsonaro, Jandira Feghali e Jean Wyllys. E a reação do público na Paulista que assistia à votação nos telões e palco montados pela Federação das Indústrias de São Paulo são um claro indicativo do que os golpistas preparam para aqueles que não comungam do seu ideário. Tudo sob aplausos e vaias de milhares de brasileiros enfeitiçados por retóricas vazias de hipócritas que, sob os holofotes da imprensa venal, dedicavam seus votos a deus e à família.

O palco em frente à Fiesp, entidade cujo presidente em 1964 pagou US$ 1 milhão ao ex-ministro da guerra e comandante do 2º Exército Amaury Kruel para trair o Presidente da República João Goulart e consolidar o golpe (camara.sp.gov.br/blog/fiesp-pagou-us-1-milhao-para-ajudar-golpe-de-64-diz-coronel/), foi montado do lado direito do grande pato amarelo “contra os impostos” cujo design foi plagiado do artista holandês Florentijn Hofman (bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160329_pato_fiesp_fs). Entre pato e palco, um varal trazia cópias de capas e recortes de artigos e “reportagens” de veículos como Veja, Estadão e outros acusando o governo e, principalmente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de corrupção. Bem no meio a montagem com a imagem de Lula vestindo uma camisa listrada de “presidiário” que serviria de inspiração para o boneco inflável cuja presença é indispensável nos protestos contra o governo. Uma bem traçada estratégica midiática-imagética cujo objetivo final, mais do que derrubar o atual governo, é eliminar o ex-presidente da disputa política.

Em cima do palco, um animador de público contratado para comentar os votos, puxar gritos de guerra, vaias e aplausos vibra quando Bolsonaro diz que seus adversários “perderam em 64, perderam agora em 2016”e quando dedica seu voto à “memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Roussef”, fazendo referências a um dos pouquíssimos assassinos e torturadores do regime militar reconhecido como criminoso condenado pela justiça brasileira a indenizar a família de uma das vítimas (http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/15/politica/1444927700_138001.html). Em seguida puxa um “quem não pula é petista, quem não pula é petista”.

No meio da fala da deputada pelo PCdoB Jandira Feghali, o animador “informa” a plateia que ela é “a socialista que tem loja que vende a Coca Cola a R$ 9,00” pouco antes de puxar uma vaia e em seguida orquestrar um novo coro para o público:“Não é mole, não. É socialista de iPhone e de carrão”. O pior, entretanto, ainda estava por vir. Ao ouvir o nome do próximo deputado a votar, o animador dá um gritinho: “ ahhh Jean Wyyyylyyyyyyyyyysssssss”. E pede “a maior vaia que essa avenida Paulista já deu! Cadê, cadê, cadê? Vaia, vaia, vaia! Vaia nele, vaia nele, vaia nele! Não deixa ele falar, não!! Não deixa ele falar, UUUUUUUUUUUU!!! A maior vaia da Paulista, agora, agora agora!!!”. E a única coisa que o povo em frente à Fiesp conseguiria ouvir, se tivesse interesse, seria a última frase do deputado pelo Psol: “Durmam com essa, canalhas!!”.

Bolsonaro está certo em uma coisa. As forças democráticas perderam em 1964. Muitas vozes, como a de Jean Wyllys hoje, foram silenciadas durante a ditadura. Não por vaias, mas por torturadores e assassinos como Ustra, em associação com empresários da Fiesp como Henning Boilesen, então presidente da Ultragaz, que ajudou a financiar a Operação Bandeirantes (Oban) que serviria como modelo para as ações dos DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Coordenação de Defesa Interna) e famoso por fazer questão de assistir pessoalmente as sessões de tortura (https://www.youtube.com/watch?v=U4O0_BqNZKQ ) de dissidentes comunistas e socialistas como são hoje Feghali e Wyllys.

Mas 2016 não é 1964. A vitória ainda não está dada. Já há luta, resistência e organização que só aconteceriam na ditadura a partir de 1968. Além disso, ainda que percamos a guerra no final, vale sempre a pena lembrar a famosa citação do antropólogo Darcy Ribeiro que, aliás, foi ministro da Educação e Chefe da Casa Civil de João Goulart até o golpe de 31 de março:

“FRACASSEI EM TUDO O QUE TENTEI NA VIDA.

TENTEI ALFABETIZAR AS CRIANÇAS BRASILEIRAS, NÃO CONSEGUI.

TENTEI SALVAR OS ÍNDIOS, NÃO CONSEGUI.

TENTEI FAZER UMA UNIVERSIDADE SÉRIA E FRACASSEI.

TENTEI FAZER O BRASIL DESENVOLVER-SE AUTONOMAMENTE E FRACASSEI.

MAS OS FRACASSOS SÃO MINHAS VITÓRIAS.

EU DETESTARIA ESTAR NO LUGAR DE QUEM ME VENCEU.”

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